Privatizada, a BR Distribuidora agora é Vibra e busca se posicionar dentro das rotas do planejamento energético brasileiro.
A empresa que mais enche os tanques brasileiros com combustíveis fósseis resolveu apostar na transição para convencer o mercado que a partir de agora vende energia, de múltiplas fontes, e pretende avançar no mercado B2B.
“Tá nascendo umas das maiores companhias de energia do mundo”, diz a campanha que a distribuidora criada há 50 anos pela Petrobras, líder nos mercados de gasolina, diesel e de querosene de aviação, colocou na rua esta semana para o lançamento da nova marca.
Está lá a estratégia que vem sendo desenvolvida desde o início da capitalização: a Vibra “nasce pronta para as empresas”, para disputar mercados de energia elétrica, gás, combustíveis e atender à demanda de empresas por energia.
E esse mercado, mais do que o consumidor individual brasileiro, ainda viciado em gasolina, sente a pressão institucional da transição energética, que passa pela eletrificação de frotas e compra corporativa de energia renovável.
Não à toa, eólica, solar e carros elétricos dividem com tanques de combustível da BR Distribuidora o curto tempo do spot de lançamento da marca Vibra.
“Estamos concluindo uma ampla revisão estratégica, com apoio de consultoria internacional, com o propósito de explorarmos os possíveis rumos da transição energética”, avisou a empresa no seu mais recente informe para investidores.
O plano, agora da Vibra, será detalhado em 1º de setembro.
Eletrificação do balanço, de olho na política
A transição da Vibra ocorre sob o comando de Wilson Ferreira Júnior, ex-presidente da Eletrobras e executivo criado no setor elétrico.
Em fevereiro deste ano, a distribuidora concluiu a compra de 70% Targus, uma comercializadora de energia criada em 2017 e que tinha, à época do negócio, um faturamento de R$ 900 milhões por ano com a venda de 3,9 mil GWh. Custou R$ 62 milhões à então BR Distribuidora.
Os números da Targus são pequenos para Vibra, uma empresa que faturou R$ 55 bilhões no 1º semestre de 2021 vendendo óleo.
No radar, está o PL 414, muito aguardado por comercializadoras e consumidores de energia, que pode ser votado na Câmara dos Deputados até o fim deste ano. É a porta para ampliação do mercado livre de energia, entrada de consumidores de média e baixa tensão e pulverização de negócios.
A compra da Targus foi fechada ainda na gestão de Rafael Grisolia, ex-Petrobras e primeiro CEO da BR Distribuidora pós-capitalização. Foi Grisolia também que acertou o acordo com a Golar Power para criação de uma distribuidora de GNL para desenvolver um mercado de pequena escala, outro passo da ampliação do portfólio de “energias”.
A Golar também mudou. Foi comprada pela New Fortress Energy e o negócio com a Vibra ainda não saiu do papel.
Mas chama atenção a promessa da NFE: usar o gás como ponte para uma empresa de energia limpa, com foco em hidrogênio e zero emissões, um mercado que, se vingar, vai desembarcar bilhões de dólares em investimentos nos portos brasileiros.
A compra da Golar pela NFE movimentou US$ 5 bilhões.
Foi um negócio atraído pelo novo mercado de gás natural, combustível escolhido no Brasil para sustentar a expansão da matriz elétrica e que ganhou um marco legal revisado este ano, com a promessa de abrir a competição no suprimento.
Na Vibra, o setor elétrico nem sequer tem espaço no balanço por enquanto, o que, de certa forma, é positivo.
Responsável pelo fornecimento de óleo para térmicas em sistemas isolados, a ex-subsidiária da Petrobras tinha um histórico de dívidas bilionárias, devidas pela Eletrobras.