HOUSTON – Os governos precisam ser mais transparentes e honestos sobre os impactos da transição energética para as populações, defende a presidente da consultoria Catavento e ex-presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Clarissa Lins.
Em entrevista ao estúdio epbr nesta quarta (20/3), durante a CERAWeek 2024, da S&P Global, no Texas, ela observou que a transição vai ocorrer de formas diferentes e com a adoção de diversas tecnologias em cada país, com um custo diferenciado para cada sociedade. Veja acima a íntegra da entrevista.
“Quando a conversa em torno da transição energética se deu, teve pouca transparência com relação aos custos que isso significaria para todas as cadeias de valor, inclusive o consumidor final. Esse custo hoje está mais evidente e o consumidor e, a depender da sociedade onde está inserido, está reagindo de uma maneira diferenciada “.
Um exemplo recente vem da Europa, onde agricultores protestaram, em fevereiro deste ano, insatisfeitos com o aumento do preço dos combustíveis e com o maior rigor nas exigências de padrões ambientais para produtos agrícolas.
“Quando o governo europeu vem com a nova legislação arrefecendo um pouco as exigências, ele está claramente mostrando que não conseguiu dialogar com a sociedade”, comenta Lins.
Segurança energética
A guerra na Ucrânia também contribuiu para colocar em evidência preocupações relacionadas ao abastecimento de energia, destaca a executiva.
“[Transição energética] É uma discussão que perpassa por várias outras temáticas e hoje cada vez mais passa pela temática da defesa também e da segurança”.
Ela lembra que a opção da sociedade europeia em meio à guerra foi reforçar a aposta na diversificação de fontes de energia.
“A resposta da Europa a essa crise, no meu entender, é muito interessante, porque casa a transição energética e a segurança energética. Os conceitos não são contraditórios e a resposta que a Europa deu reforça que, para alguns continentes, avançar mais rápido na transição é a maneira de assegurar energia”, afirma.
No entanto, Lins acredita que ainda é necessário discutir melhor o tema da segurança energética frente aos eventos climáticos extremos, inclusive com o objetivo de manter os sistemas de energia protegidos das mudanças do clima.
Em 2023, o ano mais quente da história, os eventos climáticos como secas extremas e incêndios, além de chuvas torrenciais e inundações, contribuíram para o prejuízo global de US$ 250 bilhões, dos quais 70% não tinham proteções de seguros, de acordo com dados compilados pela companhia de resseguro alemã Munich Re.
“Não dá mais para ignorar, numa análise custo-benefício, que sim é fundamental ter acesso à energia, mas é fundamental deixar claro para a sociedade, para que ela possa decidir o custo. Não estou falando só do custo monetário, estou falando do custo de incorrer em em eventos climáticos extremos, que no final do dia acaba recaindo mais em populações vulneráveis”, defende a presidente da Catavento.
Em meio a essas questões, Lins avalia que o Brasil precisa ter políticas públicas que estimulem investimentos públicos e privados no setor, sem exclusão de tecnologias. Ela ressaltou também que o país precisa ter maior inserção nos fóruns de discussão globais para romper com a imagem de ser um lugar arriscado para fazer negócios.
“Eu não estou falando de subsídio. Estímulo pode ser ter regras claras, mandatos. Sem escolher o que a gente chama de ganhadores e perdedores”, completa.
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